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20 abril, 2010

Igbó-Ikú



Vai-se mais uma vez o fruto
as Terras proibidas de Ikú,
que por vez esquece as obrigações
e o leva contigo...
Leve dor de perda,
pesa o ar do sentir.
Adentra a mata fúnebre
como quem desconhece os segredos
da vida a seguir.
Hemorragicamente – sangra,
trama, drama...
sensações de nunca mais rever.
Entre as entranhas escorre,
percorre o líquido protetor da vida
embrionária (líquido amniótico)
certeza do "rebentar as águas"
corrente vibratoria do incio ao fim.
Querer sempre necessário e presente,
mas daqui pra frente o que mais há de vim?


Jones Moreira

Dentro de mim ... em silêncio!

Medo, arremedos...
Palavras cruzadas na escuridão
Da voz sucumbida de incertezas...
Digo sim, quando o não rejeita
a precisão;
Digo não, quando já não tenho
mais o que negar.
Sim... não...
Confuso, com tudo
Parto para o movimento
Das ruas conturbadas.
Movimentar...
caminhar...
andar...
tudo e todos
sentidos semelhantes
a inúmeras probabilidades
da incerteza que causa
o mesmo ser, o medo de ser.
Pare – escuto o grito
da consciência
Consistência de não ver
o não visto,
dito pelo escrito
do mundo de querer...
ser... ter...
de não poder, obter
o fato analítico – equanimente
preciso... previsto de não ser
o que foi descrito...
não... sim...
Pare o mundo
dentro de mim...


Jones Moreira

O poço e a pedra

Um monge peregrino caminhava por uma estrada quando, do meio da relva alta, surgiu um homem jovem de grande estatura e com olhos muito tristes.
Assustado com aquele aparecimento inesperado, o monge parou e perguntou se poderia fazer algo por ele.
O homem abaixou os olhos e murmurou envergonhado:

"sou um criminoso, um ladrão. Perdi o afeto de meus pais e dos meus amigos. Como quem afunda na lama, tenho praticado crime após crime. Tenho medo do futuro e não sinto sossego por nenhum instante. Vejo que o senhor é um monge, livre-me então desse sofrimento, dessa angústia!"- pediu ajoelhando-se.

O monge, que ouvira tudo em silêncio, fitou os olhos daquele homem e alguns instantes depois disse: "estou com muita sede. Há alguma fonte por aqui?"

Com expressão de surpresa pela repentina pergunta, o jovem respondeu: "sim, há um poço logo ali, porém nele não há roldana, nem balde. Tenho aqui, no entanto, uma corda que posso amarrar na sua cintura e descê-lo para dentro do poço. O senhor poderá tomar água até se saciar. Quando estiver satisfeito, avise-me que eu o puxarei para cima."

O monge sorrindo aceitou a idéia e logo em seguida encontrava-se dentro do poço.
Pouco depois, veio a voz do monge: "pode puxar!"
O homem deu um puxão na corda empregando grande força, mas nada do monge subir.
Era estranho, pois parecia que a corda estava mais pesada agora do que no início,
depois de inúteis tentativas para fazer com que o monge subisse, o homem esticou o pescoço pela borda, observou a semi-escuridão do interior do poço para ver o que se passava lá no fundo.

Qual não foi sua surpresa ao ver o monge firmemente agarrado a uma grande pedra que havia na lateral.
Por um momento ficou mudo de espanto, para logo em seguida gritar zangado: "hei, que é isso? O que faz o senhor aí? Pare já com essa brincadeira boba! Está escurecendo, logo será noite. Vamos, largue essa rocha para que eu possa içá-lo."

De lá de dentro o monge pediu calma ao rapaz, explicando:

"Você é grande e forte, mas mesmo com toda essa força não consegue me puxar se eu ficar assim agarrado a esta pedra. É exatamente isso que está acontecendo com você. Você se considera um criminoso, um ladrão, uma pessoa que não merece o amor e o afeto de ninguém. Encontra-se firmemente agarrado a essas idéias. Desse jeito, mesmo que eu ou qualquer outra pessoa faça grande esforço para reerguê-lo, não vai adiantar nada."

"Tudo depende de você. Somente você pode resolver se vai continuar agarrado ou se vai se soltar. Se quer realmente mudar, é necessário que se desprenda dessas idéias negativas que o vêm mantendo no fundo do poço."

"Desprenda-se e liberte-se."

AUTOR DESCONHECIDO

06 abril, 2010

Ao meu Poeta [Castro Alves]

Poeta ...
porque tu andas na Praça?
Desce, vem falar comigo ...
porque tu não respondes meu pedido?
Esconde-se por detrás dessa face
sisuda e segura ...
estende a mão, como quem quer
apanhar o “SOL com as próprias MÃOS”
e não aponta para nenhuma direção ...
dizem que a praça é sua,
a rua, avenida ... à cidade onde nascerá
... CURRALINHO ...
Ensina-me de mansinho a poetizar ...
Haverei de ser igual a ti ...
Poeta ...
Como se faz ...
um Poeta?


Jones Moreira